Por Fábio Pupo, de São Paulo, para Valor Econômico
Mesmo cientes do fato de que a Copa do Mundo de 2014 acontece durante o inverno brasileiro – época em que há nevoeiros principalmente no Sul e no Sudeste -, os gestores de praticamente todos os aeroportos do país não conseguirão instalar a tempo aquele que é considerado o principal equipamento de auxílio para pousos e decolagens de aviões em condições adversas.
A categoria 3 do ILS (sistema de pouso por instrumentos, na sigla em inglês) não está instalada em nenhum aeroporto do País hoje e poderia evitar transtornos como interrupção de operações e deslocamento de aviões para outras cidades.
Para Ronaldo Jenkins, diretor de segurança e operações de voo da Associação Brasileira das Empresas Aéreas/Abear, atualmente o ILS 3 é a opção mais precisa para pouso em condições meteorológicas adversas.
“Ele permite pousar com tetos mais baixos e visibilidade menor, e torna mais preciso o processo de trazer o avião até a pista”, diz. Segundo Jenkins, o instrumento é importante principalmente para voos internacionais. “Um piloto que vem da Europa com 15 horas de voo não pode ficar se deslocando para outro aeroporto [quando chega ao Brasil]”, diz.
A estatal Infraero informou que nenhum aeroporto controlado por ela terá o ILS 3 até o Mundial de futebol. Atualmente, a companhia prevê a instalação do ILS 3 apenas no caso de Galeão (RJ) e Curitiba (PR) – neste último, um dos casos mais críticos -, mas a estimativa é que o equipamento entre em operação até dezembro de 2014, segundo a Infraero.
Parte dos investimentos para os dois aeroportos, de R$ 16 milhões, foram bancados pela Infraero e outra parte deve vir de aporte do Departamento de Controle do Espaço Aéreo/Decea – subordinada ao Ministério da Defesa. “O processo, para homologação, ainda depende de validação por parte a Agência Nacional de Aviação Civil/Anac”, diz nota enviada pela Infraero. O envolvimento de várias entidades na aprovação do ILS é apontado como uma das causas para a demora na compra e na instalação.
Dentre os aeroportos sob concessão privada, apenas o de Guarulhos – principal aeroporto do País, na região metropolitana de São Paulo – prevê instalar o equipamento até a Copa. Segundo o Decea, o ILS 3 já está instalado nesse caso. Porém, são necessárias mais obras da GRU Airport para a entrada em operação. Em Brasília (DF) e Campinas (SP), as concessionárias Inframérica e Aeroportos Brasil Viracopos informam que já existem versões do ILS instaladas em categorias inferiores. Em Campinas, a concessionária pretende fazer a instalação de uma nova versão, mas não firma um prazo.
Além do aeroporto, os aviões devem ter a tecnologia para usar o ILS 3. E os pilotos devem ser treinados. Atualmente, segundo a Abear, apenas a TAM Cargo – de cargas – está apta para o sistema e TAM e Avianca estão em processo “avançado” para se adaptarem. A Anac informou por meio de nota que “está certificando as empresas aéreas brasileiras e estrangeiras para utilizar o equipamento cumprindo as regras brasileiras de segurança”.
A Infraero defende ainda que há outros tipos de equipamentos instalados nos aeroportos, e que auxiliam o pouso em condições adversas. Estão em fase de instalação equipamentos de ILS I em Vitória (ES), Uberlândia (MG) e Joinville (SC).
Enquanto o sistema mais avançado não entra em operação, os aeroportos contabilizam horas com passageiros esperando em saguões por causa do mau tempo. Em Porto Alegre (RS), por exemplo, foram mais de 63 horas de operação comprometidas em junho e julho – meses da Copa – em 2013. Em Curitiba, foram 62 horas no mesmo período. Em Guarulhos, maior do país, 17 horas. A Infraero diz que, apesar das orientações da torre, o comandante da aeronave é quem decide pelo pouso ou decolagem. Nesses momentos, o aeroporto tem condições de visibilidade e altura (“teto” das nuvens) abaixo do mínimo ideal.
“Caso o piloto decida por não realizar o pouso, ele deve conduzir a aeronave para um terminal alternativo até que a situação do aeroporto seja normalizada”, informa a estatal.