Receita trava plano de expansão da TAM

Por João José Oliveira para Valor Econômico

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A busca por eficiência da maior companhia aérea da América Latina passa por São Carlos, cidade de 221 mil habitantes do interior paulista, mas repousa em uma gaveta da Receita Federal, na vizinha Araraquara.

A TAM, pedaço brasileiro da Latam, tem separados R$ 50 milhões para aumentar em 50% a capacidade de operação da TAM MRO, sua unidade de manutenção. O aporte permitirá que a empresa leve adiante o processo de redução de custos. Em nove meses, até setembro, cortou 25% dos custos em revisões de aeronaves – ou mais de 7% das despesas operacionais de cada avião. O dinheiro para esse empreendimento está liberado no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social/BNDES. E o projeto de engenharia, já está desenhado.

“Com essa ampliação poderemos fazer aqui a manutenção de toda a frota da Latam”, diz o diretor executivo da TAM MRO, Luiz Gustavo Figueiredo Silva, sobre os 342 aviões que voam com bandeiras TAM e LAN. “Mas para isso, precisamos que o aeroporto de São Carlos seja considerado internacional, para receber aqui os aviões com matrículas de fora do Brasil”.

A Latam faz hoje na MRO a manutenção de 40% das aeronaves do grupo Latam. Outros 40% dos aviões atravessam o continente para pousar no hangar da Aeromexico. E 20% fazem a manutenção em Santiago, onde a LAN tem uma unidade de manutenção menor do que a de São Carlos.

Além das aeronaves da Latam, o MRO recebe ainda aviões Airbus da Avianca e vai começar a receber modelos Embraer, da Azul. “Como o aeroporto de São Carlos não tem alfândega, todo avião internacional, inclusive os da Latam, têm que passar ou pelo Galeão, ou Viracopos, ou Cumbica, para o processo de importação temporária, que dura dois dias na entrada e mais dois dias na saída. Isso encarece a manutenção e tira nossa competitividade”, relata Silva.

O executivo da TAM conta que o valor médio recebido hoje pela MRO, por avião que voa apenas dentro do Brasil, é de US$ 400 mil. Se o avião vier de fora do País, esse valor sobe a US$ 520 mil, ou 30% mais. “Com os ganhos de eficiência que conseguimos desde janeiro, somos hoje de 15% a 25% mais baratos que os preços cobrados no México ou no Caribe por outras MROs. Mas com o acréscimo da internalização do avião, essa vantagem some”, diz Silva.

Isso explica porque a Latam prefere fazer a manutenção de quase metade da frota no México. Os processos de manutenção duram de 3 a 90 dias, dependendo da idade da aeronave e do procedimento acertado. Na média, a TAM MRO tem atendimentos de 14 dias.

Os aviões que param em uma das dez vagas nos cinco hangares da TAM MRO pousam em uma pista do Daesp, órgão ligado ao governo paulista, dono do aeroporto de São Carlos. Os hangares da unidade de manutenção estão ao lado. A pista, de 1,7 mil metros está apta a receber aviões de grande porte, até os Boeing 777, que transportam perto de 300 passageiros em voos intercontinentais.

A transformação do aeroporto doméstico de São Carlos em internacional depende de alfândega, que exige estrutura e funcionários públicos federais do Ministério da Agricultura, da Polícia Federal, da Anvisa, da Aeronáutica e da Receita Federal. Todos eles responderam “sim” ao pedido feito pelo governo do Estado de São Paulo para a transformação do aeroporto. Exceto um: a Receita Federal.

“A região, que é composta de 22 cidades, é essencialmente exportadora e utiliza o transporte terrestre e marítimo para escoamento da produção. O volume do transporte aéreo corresponde a 2% e ela usa os aeroportos de Guarulhos e Viracopos. Esses dados não justificariam a instalação de qualquer aeroporto oficial na região, ser alfandegado”, disse o chefe de fiscalização aduaneira Receita Federal, Wellington Tonello, baseado em Araraquara, em entrevista à uma emissora local de televisão. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da Receita Federal, que não quis acrescentar comentários sobre o tema quando procurada pelo Valor.

Enquanto o prefeito de São Carlos, Paulo Altomani (PSDB) aguarda agenda do ministro da Fazenda, Guido Mantega para entregar uma carta escrita pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pedindo o “alfandegamento” do aeroporto de São Carlos, a TAM MRO vai levar a Santiago os ganhos de eficiência obtidos no interior paulista. “Vamos fazer lá o que fizemos aqui. Mas a capacidade de operação lá é menor por falta de espaço”, afirma o diretor da TAM.

Desde janeiro, o número de homens/horas trabalhadas, indicador usado nas unidades de manutenção do setor aéreo mundial, cresceu 60%, atingindo 1,5 milhão. No mesmo período, o número de peças manuseadas mensalmente – trocadas, revisadas, consertadas etc – subiu de 4 milhões para 6 milhões. A quantidade de aeronaves atendidas simultaneamente cresceu 50%.

“Vamos fechar este ano com faturamento de R$ 300 milhões contra R$ 240 milhões ano passado”, disse Silva, que antes de ser contratado pela Latam trabalhava na ALL. Engenheiro de produção, ele enfrentou resistência para implementar processos, muitos importados de empresas de logística e da indústria automobilística. “No começo, nosso nome e de nossas mães estavam nas portas do banheiro”, disse, referindo-se aos xingamentos de parte dos 1,3 mil funcionários feitos a ele e ao diretor de produção, Bruno Diniz Gama.

Os executivos não reduziram, nem elevaram o quadro de funcionários, que conta com 100 engenheiros e mil mecânicos. “Mas houve um processo natural de trocas dos que não se adaptaram”, disse Gama.

O que antes era feito por critérios empíricos, e pouco controle, hoje é realizado por três linhas de produção, com tarefas e metas monitoradas em tempo real expostas em telões espalhados nos 25 mil metros quadrados, onde ficam os 10 hangares e oficinas. “Um trem de pouso, que percorria 5 quilômetros em oficinas e corredores e levava 120 dias para ficar pronto, hoje toma 45 dias e não circula mais que 400 metros”, cita como exemplo o diretor de produção. “Agora, não dá para fazer mais aqui. Os ganhos que temos são marginais. Precisamos do novo hangar”, diz Diniz da Gama.

Com uma estrutura capaz de receber cinco aviões simultaneamente, o hangar de R$ 50 milhões da TAM MRO abriria espaço para contratar mais 700 pessoas, entre mecânicos e engenheiros. A capacidade subiria em 50%. “Como o hangar nasce mais moderno, podemos ganhar mais 15% em eficiência”, diz Silva.

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