Como travar a luta em defesa da classe trabalhadora e levar os fatos verdadeiros aos brasileiros, diante de uma conjuntura em que a mídia domina o imaginário das pessoas com um discurso focado nos interesses da elite, e o povo não percebe? Como chegar no trabalhador e fazê-lo compreender a enorme luta travada pelo Sindicato Nacional dos Aeroportuários (Sina) em defesa da Infraero, dos postos de trabalho, que acabou inglória no sentido de que o governo do Partido dos Trabalhadores (PT) e agora o governo Temer concederam dez aeroportos da estatal à iniciativa privada? Questões como essa foram debatidas essa manhã (28/03) no painel sobre conjuntura política nacional, durante o 3º Congresso Nacional dos Aeroportuários, realizado pelo Sina, em Tamandaré (PE).A palestra da manhã contou com a participação do Secretário de Comunicação do PT de São Paulo, Aparecido Silva (Cidão) e dos dirigentes do Sina Wilson Vieira de Sousa, Samuel Santos, Sandra Maria Conceição do Prado e Alberto Carvalho.
Cidão ressaltou que é preciso entender que, como sindicalistas, queremos não só ajudar a construir um mundo melhor para as pessoas, mas também queremos o poder e precisamos entender o que significa o poder, a sua influência e importância, pois é o poder de fazer, de transformar, e se não usado corretamente, pode deixar as coisas piores, então devemos querer o poder mas usá-lo com responsabilidade.
Ele citou que há uma obra que fala sobre poder dividindo-o em três tipos: poder condigno, baseado na punição; compensatório, onde as pessoas fazer o que outras querem porque terão benefícios, como é o caso entre patrões e empregados, que recebem salário pelo seu trabalho; e o poder condicionado, o das ideias, o mais confiável e barato de todos. Seria esse terceiro o poder da Comunicação, com a qual propagamos as ideias. Contudo, no Brasil, apenas oito famílias controlam cerca de 80% dos meios de Comunicação de massa, e a informação que eles divulgam é só a que interessa à elite. “Propagam, por exemplo, a ideia de meritocracia, que vem pegando muito junto à juventude, só que por trás dela está o interesse em reduzir os direitos dos trabalhadores”, afirmou Cidão. “A Justiça no Brasil também não decide mais pelo justo, e sim pelo políticamente mais conveniente”, completou. Para Cidão, as plataformas de redes sociais mitigam um pouco essa disparidade que a classe trabalhadora enfrenta em relação à grande imprensa. “Hoje, 58% das pessoas se orientam sobre política nas redes sociais”, explicou. Cidão sugeriu que o Sindicato deve promover oficinas para transformar os militantes e dirigentes sindicais em bons comunicadores nas redes sociais, para que não se ofendam com comentários e sim respondam com tranquilidade apresentando números e dados. “O embate das ideias nas redes sociais ajudou muito o PT a vencer as eleições”, afirmou. “Vivemos num mundo onde 8 pessoas detém os mesmos recursos que outras 3,6 bilhões de pessoas. No Brasil, 8 detém o mesmo que 130 milhões de brasileiros. Então, precisamos reforçar a luta de classes que é a mais importante luta que temos para travar. Não devemos replicar notícias da grande mídia, que engana o povo, e sim os textos e materiais produzidos pela mídia alternativa, com visão voltada para a população”, completou.
O diretor financeiro do Sina, Samuel Santos, destacou que a informação que chega às pessoas não é confiável, e não adianta nos informarmos e replicarmos dados pelas redes sociais se não fizermos uma leitura correta dessas informações, muitas delas falsas. Sobre os aeroportos, lembrou que bancários e trabalhadores de telecomunicações, quando ocorreram as privatizações, foram todos demitidos, mas isso não ocorreu com os aeroportuários da Infraero por conta da atuação do Sina e da greve e enorme mobilização da categoria. “É importante que os dirigentes participem mais das ações políticas, atuem mais nas suas bases, nas atividades em defesa dos direitos dos trabalhadores, e não contem apenas com os quadros mais experientes do Sindicato, mas aprendam, estudem e assumam um papel protagonista junto à entidade”, completou.
O diretor do Sina em VIracopos Alberto Carvalho destacou que a elite, a imprensa e o governo brasileiro usaram as tragédias dos voos da TAM e Gol para destruir a imagem da Infraero, para privatizar os aeroportos, maquiando o nome de concessão. “O Sina fez greve, tentou barrar o processo na Justiça. Por conta da greve, conseguimos negociar a manutenção dos postos de trabalho e dos direitos dos aeroportuários, conseguimos abrir um canal de negociação com o governo. Mas fomos condenados individualmente, vários diretores, na Justiça, por ação da Advocacia Geral da União, a pagar 2,6 milhões de reais cada dirigente, por termos tentado barrar os leilões dos aeroportos. E a Justiça impediu a continuidade da greve impondo multa ao Sindicato. Conseguimos garantir um acordo de estabilidade inédito para os trabalhadores da Infraero mas fomos massacrados pelo governo e a Justiça, e o trabalhador muitas vezes não entende todo esse esforço e fica contra o Sindicato”, explicou Carvalho. Na época, o governo dizia que os aeroportuários seriam absorvidos pelas concessionárias privadas, mas somente cerca de 10% dos trabalhadores foram admitidos por essas empresas. A solução encontrada pelo Sina foi buscar convênios de cedência para que os aeroportuários da Infraero pudessem atuar em outros órgãos públicos, como a Polícia Federal. “Continuamos nessa luta em defesa dos empregos de todos que estão sendo prejudicados com as novas concessões. Contudo, o cenário não é bom. A Infraero, que perdeu muito de seus recursos, já alerta dificuldades para pagar a folha no segundo semestre. Tínhamos uma empresa sustentável, que dava lucro, e que está sendo destruída pelo governo, mas seguimos na luta. As concessionárias administram aeroportos que antes davam lucro e agora dão prejuízo, porque não sabem administrar”, afirmou Carvalho. “Na Infraero, há trabalhadores excedentes por conta das concessões, mas a empresa contrata serviços terceirizados que envolvem cerca de 20 mil trabalhadores, de modo que não haveria excedente se não terceirizassem”, completou.
Tanto nos aeroportos concedidos, como nos municipais e estaduais de várias partes do país não ligados à Infraero, há um processo de demissões muito forte. Em Guarulhos, somente em janeiro e fevereiro, foram 240 demitidos. Desde o início da concessão, quase 700 pessoas perderam o emprego no Aeroporto. Em Viracopos, o lucro da época da Infraero também virou prejuízo e muitos vêm sendo demitidos. “Nas próximas concessões, sem a participação da Infraero, estamos sem garantias e a luta será ainda maior”, disse Carvalho.
Wilson de Sousa, também diretor do Sina, ressaltou que a entidade vem firmando acordos nos aeroportos menores para garantir a toda a categoria os mesmos direitos, e vem conseguindo a reposição da inflação e a ampliação de direitos sociais em várias localidades. “Agora, estamos buscando construir uma Convenção Coletiva que abrigue todos os aeroportuários do país, estamos mapeando os aeroportos por estado para ampliar nossa atuação”, disse Sousa.