Com leilões de aeroportos, Infraero vai redefinir funções e enxugar quadro de chefia

Por Sílvio Ribas para Estado de Minas

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A assinatura dos contratos de concessão dos aeroportos de Confins, na Grande BH, e do Galeão, no Rio de Janeiro, no começo de 2014, vai coincidir com o término da atual reestruturação administrativa da Infraero. Ao deixar de operar mais dois grandes terminais de sua rede – a serem leiloados em 22 de novembro e dos quais será só sócia na gestão –, a estatal federal também vai enxugar seus quadros de gerenciamento. “O esforço das mudanças é para adequar nossa estrutura à queda de receitas e aos custos atuais”, explicou o diretor de Planejamento da empresa, Mauro Lima. Os números finais dos cortes e redefinições de funções serão divulgados na próxima semana.

Em paralelo à redução dos cargos de chefia, sobretudo no nível de gerência, e à conversão das superintendências regionais em centros de apoio, a Infraero também aposta em mais avanços no plano para acomodar quase 4 mil funcionários lotados nos seis aeroportos já entregues à iniciativa privada ou a serem leiloados. Dos seus 13,5 mil empregados concursados, a estatal tem 2,8 mil nos terminais privatizados de Brasília, Guarulhos (SP) e Campinas (SP). Desses, 791 aderiram até agora ao Plano de Demissão Voluntária/PDV e outros 483 foram cedidos a outros órgãos como Receita e Polícia Federal.

Esses movimentos, além das transferências para os demais 60 aeroportos da Infraero, terão o alvo ampliado até o fim do ano, com a inclusão de outros 1.621 empregados, sendo 1.130 do Galeão, 362 de Confins e 129 de Natal. Esses últimos serão absorvidos pelo terminal concedido 100% ao setor privado de São Gonçalo do Amarante (RN), cujas obras estão na reta final. “O acordo firmado entre as empresas e os sindicatos de trabalhadores prevê esse esforço de aproveitamento ou desligamento até 2018. Mas também não quer dizer que os remanescentes serão demitidos após essa data”, acrescentou Lima.

A reestruturação gerencial da Infraero também integra a sua preparação para a abertura de capital no Novo Mercado da Bovespa, entre 2015 e 2016. A diretoria desistiu de criar a subsidiária Infraero Participações, para atuar em outros negócios, mas está estruturando outra, a In8. É o que mostra a quarta edição de um relatório sobre a riqueza global do grupo financeiro e segurador Allianz, com dados sobre 52 países. No fim de 2012, os ativos financeiros brutos totais da região atingiram o recorde de € 2,7 trilhões, um avanço de 13% sobre o ano anterior – e acima dos 8,1% de crescimento registrado pelos ativos financeiros no mundo no ano passado, que somaram € 111,2 trilhões. Em ritmo de expansão maior que a média global, a América Latina ampliou sua fatia no bolo dos ativos globais, de menos de 1% no início dos anos 2000 para 2,4% no ano passado.

Do total dos ativos da América Latina, a fatia de Brasil equivale a € 1,3 trilhão e a do México, a € 867 bilhões – juntos, os dois países concentram 80% da riqueza da região, e 70% da população da região, de 315 milhões pessoas. Se levado em consideração o endividamento das famílias brasileiras, que alcançou € 732 bilhões no ano passado, o Brasil fica atrás do México em termos de riqueza na região, com € 540 bilhões em ativos financeiros líquidos.

A dívida do brasileiro vem crescendo a uma taxa anual de 18,2% ao ano desde 2000, em ritmo maior que os 16,6% de aumento médio verificado na América Latina no mesmo intervalo. E acima também da expansão dos ativos totais de sua população. A partir de 2007, segundo a pesquisa, o Brasil registrou uma desaceleração no crescimento dos ativos brutos das famílias, que passou de 16% no período de 2003 a 2007 para quase 12% entre 2008 e 2012.

Apesar de o Brasil figurar como o segundo país mais “rico” da América Latina pelo indicador ativos financeiros líquidos de dívida, quando analisados em termos per capita, os valores revelam uma grande desigualdade: a riqueza líquida de um brasileiro médio é de € 2.730, bem abaixo dos € 6.110 do México e dos € 10.970 do Chile. Na América Latina, a média é de € 3.640, com a Argentina na mínima, de € 1.200, e o Chile, no topo da região. Na escala global, em que a média é de € 16.240, o Brasil figura na 41ª posição. Abaixo de € 4.900 per capita, o país é considerado de “baixa riqueza”.

O relatório da Allianz destaca que as taxas de pobreza na região da América Latina ainda são altas, há muita desigualdade, apesar do sucesso das políticas adotadas. No Brasil, por exemplo, a taxa de pobreza caiu de 37,5% em 2000 para 20,9% em 2011.

Como mostram os dados da pesquisa, tanto o Brasil quanto a região da América Latina vêm em uma tendência de aumento da dívida pessoal acima do crescimento dos ativos.

E isso deve ser observado de perto, segundo o economista-chefe da Allianz, Michael Heise, para que a região não cometa os mesmos erros de europeus e americanos, marcados por um crescimento alimentado com dívida. “O nível de endividamento hoje no Brasil não é alarmante, mas é preciso monitorar de perto”, disse Heise, que esteve no país na semana passada. A dívida per capita no país é de € 3.670. Isso significa que para cada euro emprestado, o brasileiro conta com € 1,7 em ativo. Para Heise, as políticas públicas deveriam incentivar a população a poupar e não a se endividar, já que as pessoas terão de ter recursos para a fase de aposentadoria, para gastos com saúde e outras necessidades que o governo possivelmente não terá como garantir.

Com um endividamento na casa de € 1,063 trilhão, a América Latina também bateu o recorde em termos de ativos financeiros líquidos, ao registrar crescimento de 11,7% no ano passado, para € 1,7 trilhão. “Isso significa um aumento de mais de 40% se comparado ao ápice de 2007”, afirma Heise. Ele lembra ainda que as regiões ricas, como a América do Norte e Europa, superaram no ano passado o nível anterior à crise, mas por uma pequena margem.

Em termos globais, os ativos financeiros líquidos, se descontados os passivos, tiveram crescimento de dois dígitos no ano passado: de 10,4%, para € 78,8 trilhões. Uma taxa bem acima da média anual registrada desde 2000, de 4,2%. Na América Latina, desde 2000, o aumento médio anual é de 11,6%, o que coloca a região atrás apenas da Ásia (excluindo Japão), com taxa de 14%. Nos últimos 12 anos, os ativos financeiros líquidos do Leste Europeu avançaram a uma taxa média anual de 11%.

Levando em conta o indicador bruto, conforme a pesquisa da Allianz, todas as regiões experimentaram ainda um crescimento forte dos ativos financeiros totais no ano passado. O maior avanço, de cerca de 16%, foi registrado pela Ásia (com exceção de Japão), seguida por Oceania (14,4%). A América Latina (13%) aparece logo depois, seguida pelo Leste Europeu (10,2%). América do Norte, Europa Ocidental e Japão registraram expansão de um dígito.

Do lado dos passivos, a pesquisa da Allianz mostrou que a dívida, em termos globais, permaneceu controlada pelo quarto ano consecutivo após a quebra do Lehman Brothers, ao avançar 2,9% em 2012, para € 32,4 trilhões. O índice da dívida global (passivo expresso como porcentagem do PIB) caiu mais um ponto percentual, para 65,9% – o recorde, de 71,6%, foi alcançado em 2009. A média, contudo, mostra pouco a realidade.

Em regiões mais ricas, como a América do Norte, o ritmo de crescimento da dívida caiu substancialmente. Nos anos anteriores à crise, os passivos cresciam a uma taxa média anual de 10,2%. Desde o fim de 2007, contudo, a taxa média caiu para 0,4% ao ano. No ano passado, foi registrado um aumento no ritmo de crescimento da dívida, mas para apenas 0,7%.

O Leste Europeu seguiu na liderança, com a dívida crescendo 25,4% ao ano, desde 2000. A alta, contudo, já foi maior, de 36% anuais, entre 2003 e 2007. Não há sinais, conforme a pesquisa, de que fenômeno similar esteja acontecendo em outras regiões emergentes como América Latina e Ásia (excluindo Japão), uma vez que não foram tão atingidas pela crise, como o Leste Europeu. Na América Latina, mostrou a Allianz, o crescimento médio anual da dívida tem se mantido em torno de 17%, antes e depois da crise.

Na Ásia, excluindo o Japão, a taxa média de expansão anual da dívida pessoal passou de 12,3% no período anterior à crise (de 2003 a 2007) para 15,8% de 2008 até o ano passado. Em compensação, a taxa média per capita de dívida na região – de € 1.290 – é a menor na comparação global, seguida do Leste Europeu (€ 1.880) e América Latina (€ 2.330).fraero Serviços (nome provisório), voltada para atuar como consultoria e explorar suas competências nas áreas técnicas. As concessões dos seus três maiores aeroportos já levou a uma perda de 40% da receita e outros 15% deverão sair do orçamento com a liberação de Confins e Galeão.

Turbulência

O governo está correndo contra o relógio para garantir o sucesso da segunda rodada de leilões de aeroportos, para os quais seis consórcios formados por operadores internacionais e empreiteiras nacionais já manifestaram interesse.

A Casa Civil está empenhada em evitar questionamentos jurídicos, além de subsidiar os grupos de dados que revelem a lucratividade de cada terminal.

As preocupações com a atratividade de Confins cresceram nos últimos dias após a revelação de perda no fluxo de passageiros. O diretor da Infraero esclareceu que os investidores deverão levar em conta as perspectivas de crescimento do setor nos próximos 15 anos. No caso do aeroporto mineiro, os recuos se deve à conjuntura geral e ao ajuste de oferta, com corte de 7%, liderado pelas líderes TAM e Gol.

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