Para o processo de concessão de mais cinco aeroportos da Rede Infraero à iniciativa privada, o governo federal estabeleceu a criação de uma comissão paritária, formada por representantes da estatal e do Sindicato Nacional dos Aeroportuários (Sina) para discutir com os aeroportuários, nos terminais que serão concedidos, os impactos da medida.

A primeira reunião que o Sina participou sobre esse tema aconteceu na última semana, no Aeroporto de Salvador-BA, nos dias 8, 9 e 10 de junho.

No dia 8, o Sindicato e os membros da Infraero ouviram um grupo de trabalhadores do Aeroporto que realizou uma pesquisa sobre o perfil profissional e social dos aeroportuários no terminal, a fim de colaborar com a manutenção dos empregos e a garantia da dignidade de todos que atuam ali. A iniciativa foi elogiada pelo Sindicato.

Depois da apresentação dos dados dessa pesquisa, a comissão paritária reuniu-se com praticamente todos os aeroportuários de Salvador, no auditório do Aeroporto, com a participação do Diretor de Gestão da Infraero, Angelino Caputo.

É essencial esclarecer, ressalta o Sina, que a entidade participa da comissão paritária para defender os direitos dos aeroportuários nesse processo. Todavia, para o Sina, a concessão de aeroportos da Infraero é um processo nefasto de entreguismo do patrimônio público e está gerando um prejuízo incalculável à aviação civil e aos mais de 12 mil trabalhadores da estatal.

“Nós não podemos oferecer à nossa categoria nem utopia, nem ilusão. Já vivemos o processo de entrega de seis aeroportos: Guarulhos-SP, Campinas-SP, Brasília-DF, Natal-RN, Galeão-RJ e Confins-MG. O processo começou em 2011 e contou com muita luta, muito enfrentamento, unidade da categoria, atos, protestos, fomos manchete na grande imprensa, mas não conseguimos barrar os leilões”, explica o presidente do Sina, Francisco Lemos.

Além da mobilização, os dirigentes sindicais buscaram judicialmente impedir a realização dos leilões. A iniciativa levou a um processo da Justiça Federal que resultou numa sentença que impõe o pagamento à União de R$ 2,4 milhões por dirigente sindical. “Embora parte da categoria não saiba, foi através de toda essa luta que garantimos a estabilidade aos aeroportuários da Infraero até 31 de dezembro de 2020”, ressalta Lemos.

Com o anúncio das concessões dos aeroportos de Salvador-BA, Fortaleza-CE, Porto Alegre-RS, Florianópolis-SC e Cuiabá-MT, o pesadelo aeroportuário recomeça, e o Sina fará de tudo para frear esse novo processo, para preservar os empregos dos pais e mães de família que dependem da Infraero, seja através da permanência do terminal na Rede Infraero, seja por forma de transferência, cessão para outros órgãos federais.

Em Salvador, foi discutida a possibilidade de retomada do Centro de Suporte, uma discussão que deve ser levada ao Conselho de Administração da Infraero, onde o representante dos trabalhadores é o companheiro Célio Barros.

“Precisamos manter os pés no chão”, defende a direção do Sina, diante desse momento extremamente difícil para todos os aeroportuários/as que atuam na Infraero, uma vez que o futuro da estatal se fragiliza ainda mais com a saída de outros terminais.

“Discursos delirantes, posturas psicodélicas por parte de alguns só alimentará a vaidade individual e não levará ao resultado que queremos, que é manter os empregos e garantir a dignidade dos aeroportuários”, afirma Lemos. “Se tivermos que ir para o enfrentamento, iremos. Não teremos medo de defender nossos empregos”, completa a dirigente sindical em Salvador, Solange Farias.

A comissão paritária irá visitar todos os aeroportos na mira das concessões. Ainda esse mês, deve ocorrer encontro em Cuiabá, seguido por Florianópolis e Porto Alegre, e depois Fortaleza. O cronograma pode ser alterado pelo governo.

“Ainda há mais interrogações que ações sociais no novo governo federal. Nos parece que o trabalhador/a está no final da sua lista de prioridades, se não estiver fora, o que torna a luta contra as concessões ainda mais difícil, mas estamos prontos para o que der e vier e pedimos aos trabalhadores que fiquem atentos e mobilizados”, completa Lemos.

Além de conversar com a categoria, o Sina realizou, em Salvador, junto com representantes da Infraero, uma visita à Superintendência da Polícia Rodoviária Federal. Na ocasião, o superintendente Virgílio de Paula Tourinho afirmou que a intenção da PRF é firmar um convênio com a Infraero para absorver parte do efetivo do Aeroporto em todos os níveis profissionais (PSA, técnicos e analistas superiores). O processo agora tramitará em Brasília. O Sindicato segue na luta para ampliar também os convênios já existentes com a Polícia Federal, Anvisa, CGU e outros órgãos federais, estaduais e municipais. “Apesar de não ser o mundo que queremos, os convênios de cessão a outros órgãos reforçam a manuteção dos nossos empregos”, explica Lemos.