Disputa por megacampo pode ter um só consórcio

Por Cláudia Schüffner do Valor Econômico

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Há a expectativa de que apenas um consórcio dispute hoje, 21/10, o direito de produzir petróleo no gigantesco campo de Libra. Apesar do atrativo incomum de leiloar uma área com a descoberta de um reservatório gigante de petróleo, o governo pode se frustrar com uma licitação sem concorrência. Fontes qualificadas da indústria apostavam na sexta-feira, 18/10, que a Repsol e a Galp (que opera no Brasil com a marca Petrogal) não vão participar do leilão, o que significa que a chinesa Sinopec estaria fora, já que só qualificou a empresa formada no Brasil, a Repsol Sinopec.

Também é dada quase como certa a não participação da malaia Petronas – cujas conversas com os chineses não foram adiante – e da Mitsui, do Japão. O mercado aposta ainda que a estatal colombiana Ecopetrol também estaria fora, apesar de a empresa ter sinalizado que ainda negociava sua participação em um consórcio. A diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, evita falar em número de concorrentes. “Como essa é uma questão negocial, estamos evitando qualquer conversa ou busca de mais informações a respeito, para garantir um ambiente concorrencial sadio”, afirmou Magda ao Valor.

A indiana ONGC Videsh acabou de anunciar o pagamento de US$ 529 milhões por mais 12% do Parque das Conchas (operado pela Shell), o que bloqueou acordo de venda da participação da Petrobras para a chinesa Sinochem. Depois disso o apetite dos indianos por novos investimentos no país estava sendo colocado em dúvida.

Se confirmadas a saída de tantas companhias da disputa, as habilitadas que permaneceriam no jogo são as chinesas CNPC junto com a CNOOC, além de Petrobras, Shell e Total. Seria um consórcio de gigantes. Pelo edital, no máximo cinco empresas podem participar de um consórcio. Mas também pode haver um consórcio à parte, não formado pela Petrobras, que só ficaria com os 30% previstos em lei. Obviamente o desenho final será conhecido apenas na entrega de envelopes na segunda-feira.

O interesse chinês pelo pré-sal se justifica pela voracidade do consumo de energia daquele país, que produziu 4,1 milhões de barris de petróleo diariamente em 2012 e importou 5,4 milhões de barris/dia, metade disso atendido pelo Oriente Médio, com a África respondendo por outros 24%.

Em setembro deste ano, quando a China passou os Estados Unidos como maior importador de petróleo do mundo, os números já eram maiores. As importações tinham aumentado para 6,4 milhões de barris por dia, e a produção também cresceu para 4,6 milhões de barris, um acréscimo em nove meses equivalente a um quarto de toda a produção da Petrobras.

O objetivo do governo é diversificar as fontes de abastecimento para garantir a segurança energética do país, cujo Produto Interno Bruto (PIB) cresce a taxas inigualáveis: cresceu 7,8% em 2012 e até setembro crescia de 7,7%, ainda assim a menor taxa desde 2007.

Não foi à toa que o governo bateu às portas da China para atrair parcerias das estatais do país para a Petrobras no pré-sal. As estatais Sinochem e Sinopec já investiram no Brasil US$ 16,2 bilhões nos últimos três anos e agora chegou a gigantesca CNPC interessada em Libra. Ela é a maior das estatais e controla a PetroChina, cujo valor de mercado de US$ 264,5 bilhões a coloca atrás apenas da ExxonMobil no ranking das maiores companhias de energia listadas em bolsa.

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O leilão de Libra está marcado para às 14 horas, desde que não apareçam liminares que possam atrasar o início. O alto custo do bônus de assinatura (R$ 15 bilhões) vai representar um desembolso mínimo de R$ 4,5 bilhões para a Petrobras se ela ficar apenas com os 30% obrigatórios e não participar do leilão, o que é improvável.

Essa pressão no caixa, adicionada à greve dos petroleiros com efeitos ainda não conhecidos sobre a produção de petróleo da companhia está preocupando acionistas estrangeiros da estatal. João Augusto de Castro Neves, analista sênior para a América Latina do Eurasia Group, conta que recebeu diversas ligações de investidores na sexta-feira.

“Os acionistas estão preocupados com a possibilidade de a Petrobras receber outro downgrade, seguindo o rebaixamento da Moody’s. O contexto é adverso. A Petrobras já está sob tensão e a pressão por mais aumento salarial e estamos na véspera do primeiro leilão do pré-sal não ajuda”, diz Neves.

Segundo ele, os investidores estão se perguntando quanto tempo a greve vai durar e qual será a necessidade de aumentar importações se a produção ficar parada muito tempo. “E se a greve durar um mês?”, questiona Neves, de Washington.

No pior cenário, explica o analista, o governo terá que permitir um aumento de preços. A percepção de Neves é que todos esses eventos vão acelerar a necessidade de um aumento dos combustíveis. “Também achamos que esse será o primeiro e último leilão do pré-sal nesse modelo de partilha de produção com a Petrobras obrigada a ter participação mínima de 30%”.

João Castro Neves também acha curiosa a reação dos petroleiros, que acrescentaram os protestos contra o leilão de Libra à sua agenda anual de pressão salarial que acontece sempre em setembro, data-base da categoria. “É irônica essa reação quando o modelo é tão estatizante”.

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