Por Daniel Rittner, de Brasília, para Valor Econômico
Pelo menos nove aeroportos administrados pela Infraero deverão passar por obras em suas pistas de pouso e decolagem nos próximos meses. Em muitos casos, como nos aeroportos de Recife e de Campo Grande, haverá interdições parciais da pista e necessidade de remanejamento de voos. A concentração de obras no fim de 2013 e no início de 2014 tem levado as companhias aéreas a montar um quebra-cabeças para evitar transtornos nas operações. Especialistas advertem, no entanto, que a redistribuição de horários pode gerar enxugamento da oferta e aumenta os riscos de atrasos em cascata dos voos.
Em Recife, por exemplo, a pista passará por recapeamento da camada asfáltica em sua parte central. Para a execução dos serviços, as companhias aéreas foram notificadas de que haverá fechamento da pista entre os dias 2 de setembro e 19 de outubro, entre 0h e 7h. No aeroporto de Confins (MG), a pista será ampliada em 600 metros e as autoridades estão discutindo com as empresas em quais horários poderá haver interdições. Em Florianópolis, dois voos durante a madrugada precisarão ser remanejados, entre setembro e dezembro. Os aeroportos de Aracaju e Campo Grande, cujas obras de reforma das pistas ainda estão sendo licitadas, também deverão ter algumas restrições operacionais.
Para o diretor de segurança e operações de voos da Associação Brasileira das Empresas Aéreas/Abear, Ronaldo Jenkins, as intervenções são importantes. Ele elogia a postura da Infraero de concentrar suas obras em períodos de menor demanda, como as madrugadas, mas diz que não houve um planejamento adequado. “Essas obras deveriam ter sido mais bem distribuídas ao longo dos últimos sete ou oito anos. Elas foram sendo postergadas e agora é preciso correr para ter as pistas em bom estado até a Copa do Mundo de 2014”, afirma Jenkins, referindo-se às reformas em aeroportos das cidades-sede.
A Infraero informou ao Valor que intervenções em pistas de outros três aeroportos – Galeão (RJ), Belém e Uberlândia – não afetam a programação de voos das companhias. Em Curitiba, a reforma mudará horários de voos cargueiros, sem impacto para as operações da aviação comercial.
De acordo com Jenkins, todas essas obras quase simultaneamente desafiam as malhas das empresas aéreas, com a necessidade de reprogramação de dezenas de voos. Um dos problemas, conforme ele explica, é quando os voos envolvem saída ou chegada em aeroportos como Congonhas (SP) ou Santos Dumont (RJ). Eles têm menos horários disponíveis e o remanejamento é mais complicado, diz o diretor.
Para o especialista em direito aeronáutico Guilherme Amaral, do Aidar SBZ Advogados, fica evidenciado o gargalo da infraestrutura aeroportuária. “Quando ocorre esse tipo de intervenção nas pistas, que é necessária, faltam alternativas razoáveis para o remanejamento dos voos. O aeroporto mais perto, em muitos casos, está a 300 ou 400 quilômetros de distância.”
Amaral lembra ainda que pode haver redução da oferta disponível e, consequentemente, aumento de tarifas. Além disso, com menos tempo para pousos e decolagens em muitas pistas, as malhas ficam mais suscetíveis a um “efeito dominó”, em caso de atrasos em voos.
A Infraero destacou que todas as interdições de pistas que interferem na programação de voos são discutidas com antecedência entre a estatal, as empresas, a Secretaria de Aviação Civil/SAC, a Agência Nacional de Aviação Civil/Anac e o Decea (controle de tráfego). O objetivo é dar tempo às companhias e garantir direitos dos passageiros.