
Ao longo desta semana, em alusão ao Dia Internacional da Mulher, confira histórias de mulheres inspiradoras.
“Neste 8 de março venho falar de uma mulher extraordinária, minha querida e saudosa mãe. Dona Ivone, uma mulher única, de personalidade forte, decidida, inteligente e com um coração que não cabia no peito.
Ivone sofreu violência sexual aos 14 anos em João Pessoa, na Paraíba, o agressor era rico, filho de fazendeiro. Os pais resolveram fazer o casamento dos dois… casamento forçado,
Ivone não pensou duas vezes, veio embora na boleia de um caminhão para ser empregada doméstica no Rio de Janeiro. Passou por muitos percalços, sofreu inúmeros dissabores, comeu o pão que o capeta amassou com os pés, mas decidida como era, procurou por dias melhores. Conheceu meu pai aos 18 anos, juntou-se com ele e teve cinco filhos, três morreram ainda feto e dois sobreviveram, meu irmão e eu.
Sem nunca ter estudado era de uma inteligência de dar inveja. Honesta, decente, caprichosa, nossa os seus atributos eram muitos! Baixinha, de 1,50m, mas quando aborrecida, virava 2m de altura.
Minha mãe nunca parou, trabalhava de sol a sol. Lembro como se fosse hoje ela fazendo a faxina na nossa casa de madrugada que era o tempo que lhe sobrava. Cozinhava maravilhosamente bem, era limpa e organizada. Aos domingos tinha o famoso macarrão com galinha e refrigerante de cola. Durante a semana bolinho de chuva e bolo recheado de goiabada.
De voz mansa, falava tudo o que queria sem demora nem fingimento. Tinha um amor pela vida invejável. Tinha sede de viver e de saber.
Minha melhor e maior amiga, minha alma gêmea, meu grande amor. Encontrei meu pote de ouro quando abri meus olhos pela primeira vez e a enxerguei.
Sim, estou chorando de saudades…
Sempre me ensinou que o melhor casamento para a mulher era o estudo e um bom emprego.
Quando atingiu seus 40 anos, passou a ficar muito doente, vi minha mãe quase morrer muitas vezes, mas era só melhorar que voltava a batalha.
Vê-la voltar para a Pátria Espiritual me fez sentir sem um pedaço, mas nossa senhora quanta certeza de que tinha conhecido meu grande ídolo.
Tento ser metade do que ela foi e é. Faço um grande esforço diário.
Eu também sofri violência doméstica. Tal qual minha mãe. Então, estou sempre pronta a ajudar a quem precisa. Isso puxei dela.
A ONG SobreViver, é um pouco por ela, um pouco por mim e muito por todas as pessoas que sofrem algum tipo de violência. Não posso me calar vindo do barro que fui feita.
Minha mãe meu tudo.”
Vera Leite, vice-presidente da ONG SobreViver e dirigente do SINA.